sexta-feira, 19 de agosto de 2011



19 de agosto de 2011 | N° 16797
DAVID COIMBRA


Perigos do mundo

Meu pai era um bêbado. Bêbado mesmo, doente, de cair na rua e ficar estirado ao longo do meio-fio. Na vida, o excesso de bebida foi a causa de quase todos os seus problemas. Na morte, o excesso de bebida foi consequência.

Eu, aqui, gosto de beber. Mas não sou um bêbado. Ainda assim, muitas vezes bebi demais e em muitas dessas vezes cometi besteiras das quais me arrependi no dia seguinte, o da sobriedade e da culpa. Só que essas besteiras não chegaram a ser graves, não comprometeram a minha saúde, nem o meu futuro.

Gostaria de acreditar que isso me aconteceu por premeditação, por inteligência. Não foi. Foi por sorte.

Minha maior sorte, e também a dos meus amigos, é que nós não dirigíamos quando tínhamos 18, 19, 20 anos de idade. Naquela época, era mais difícil comprar carro, sobretudo se sua mãe trabalhava como professora do Estado, desquitara-se do seu pai bêbado e tinha três filhos para criar.

Mais tarde, aos vinte e tantos anos de idade, já ganhando o meu próprio salário, minhas prioridades eram outras: comprar livros, pagar o aluguel e eventuais jantares para as eventuais namoradas, não muito mais do que isso.

Hoje, reconheço que aquela precariedade econômica foi uma bênção. Se dirigisse na adolescência, bebendo como bebia, sendo tolo como era, algo de muito ruim teria me acontecido.

Hoje, olhando para o meu filhinho, penso nos perigos do mundo, e tenho medo. Um medo que nunca senti quando era mais jovem e mais bobo. Porque agora não temo por mim. Temo por ele. Sei muito bem que as ameaças rondantes a quem vive numa grande cidade são, todas, potencializadas pelo mal que vitimou meu pai: o álcool.

É por isso que aplaudo uma medida tomada há pouco pelo governo de São Paulo: o endurecimento da punição aos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas a menores de idade.

Bares e restaurantes flagrados nessa infração serão pesadamente punidos. Se forem reincidentes, terão o alvará de funcionamento cassado. Não é preciso ser nenhum sociólogo para prever: diminuirá a violência nas ruas e no trânsito da cidade em curto espaço de tempo.

Pois foi como eleitor e contribuinte que, humildemente, enviei por e-mail uma sugestão à assessoria do governador Tarso Genro, dias atrás: que ele propusesse lei semelhante no Rio Grande do Sul. Quarenta e oito horas depois, recebi a resposta.

O governador, durante reunião da Sala de Gestão, solicitou que em 10 dias seja encaminhada proposta nesse sentido à Casa Civil. Espero que a comunidade e a Assembleia Legislativa apoiem a aprovação dessa medida. Em nome do futuro vitorioso dos que hoje são meninos, como o meu filhinho. Em nome do passado fracassado dos que já se foram, como o meu pai.

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