quinta-feira, 18 de agosto de 2011



18 de agosto de 2011 | N° 16796
LETICIA WIERZCHOWSKI


Praticando yoga

A gente fica adulto, e para de se expor a determinadas coisas. Uma amiga minha, que recentemente viajou com os filhos para uma estação de esqui, voltou dizendo: “Eu caí muitos tombos. Que maravilha cair, poder levantar e seguir em frente”. Para ela, cair na neve foi uma revelação. Adulto para de cair e, com o tempo, cair é o maior mico para a gente. Fiquei pensando nisso e, mais uma vez, agradeci à vida por ter colocado o yoga no meu caminho...

Lá no yoga, aprendi a criar uma relação totalmente nova com o meu corpo e com o meu espírito. Olhos nos pés, nariz no tornozelo, a mente limpa – o yoga é você com você mesmo, sem intermediários. O resultado disso é um corpo mais saudável e maleável, numa mente mais aprumada e leve. E alguns tombos, inevitavelmente.

Existem muitas modalidades de yoga, a que eu pratico chama-se ashtanga vinyasa yoga, conhecida por aí como “power yoga”. Depois de um ano de prática, somente agora arrisco-me a escrever umas linhas sobre o assunto – no entanto, o yoga mudou muito a minha vida, e para melhor. Porque existe um paralelo entre a prática de uma atividade física e o processo criativo (sobre isso, recomendo um ótimo livro: Do que Eu Falo Quando Eu Falo de Corrida, do japonês Haruki Murakami).

Escrever um romance é uma tarefa solitária (como no yoga, é você com você mesmo), uma tarefa longa e árdua. Requer fôlego e força de vontade. Escrever vários romances, ser um romancista, requer muito mais de tudo isso, eu diria que é uma prática bastante estoica. Não basta talento, é preciso dedicação a longo prazo, uma dedicação miúda e tenaz, às vezes até mesmo risível aos olhos alheios.

Um grande músico pode compor uma canção num momento de inspiração, numa tarde qualquer, depois de umas taças de vinho. Mas um escritor, que pode ter uma ideia genial numa tarde qualquer depois de umas taças de vinho, há de precisar de milhares de outras tardes sem álcool para dar corpo ao seu romance. Sem trabalho, sem suor, não há romance.

Mas você não precisa ser um escritor para praticar o yoga. Você só precisa sair da sua zona de conforto óbvia, e entrar nesse outro território, silencioso, sutil e recompensador. É muito mais do que aspirar e expirar, alongar, subir e descer, yoga é um processo de autoconhecimento. Não é fácil não, mas é maravilhoso. Eu já escrevi vários livros, mas ainda não consegui montar sirsasana. Mas praticar yoga é reaprender-se constantemente, e um dia eu chego lá.

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