08 de junho de 2011 | N° 16724
DAVID COIMBRA
Os nada ecológicos índios brasileiros
Os índios brasileiros nunca foram “ecologicamente corretos”, nem “integrados com a Natureza”, como tantos apregoam. Ao contrário, eram predadores ferozes, dizimaram diversas espécies de animais e, para caçar, empregavam o método mais destrutivo que o homem conhece: as queimadas, chamadas por eles de “coivaras”.
Nenhuma surpresa. Os índios eram nômades, e os nômades sempre viveram da exploração da Natureza, não da sua transformação, como fazem os sedentários. Povos nômades estacionam em um local, servem-se dos recursos da região e, depois de exauri-los, vão-se embora, deixando atrás de si o que mais o ser humano produz em qualquer tempo e lugar: o lixo. Para eles isso não tinha a menor importância, porque em geral os nômades dispunham de muito espaço para explorar.
Essa característica dos índios brasileiros já era mais ou menos conhecida, já havia sido descrita por alguns pesquisadores. Agora foi reforçada por um sucesso editorial, o livro “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, do jornalista Leandro Narloch.
Trata-se de um bom livro, de leitura fácil e veloz, que incorre em um ainda mais veloz equívoco, exatamente nesse capítulo sobre os índios. É o seguinte: Narloch conta que os habitantes primitivos do Brasil saíram da África, como os habitantes primitivos de todos os lugares da Terra. No entanto, depois do aquecimento global e do derretimento do gelo das montanhas, o continente americano viu-se separado da África, da Ásia e da Europa por uma massa d’água de quatro mil quilômetros de extensão.
Até aí tudo certo. O problema é que Narloch deduz que os índios brasileiros se mantiveram na Idade da Pedra e não desenvolveram a Civilização por falta de contato com os outros povos. Sem acesso a novas tecnologias, eles jamais saíram do seu meio primitivo de vida.
Esse o erro.
Os índios brasileiros podiam ter desenvolvido a Civilização mesmo estando isolados. A prova é que os índios do lado oeste da América, os Incas, por exemplo, alcançaram níveis avançados de desenvolvimento antes de entrar em contato com os europeus. Os índios brasileiros não desenvolveram a Civilização PORQUE NÃO PRECISAVAM. Por aqui, o clima é ameno, não há terremotos ou furacões, há caça abundante, pesca fácil e, em se plantando, tudo dá, tanto dá que os índios nem plantar plantavam. Para quê, se era só esticar a mão e colher?
Narloch está certo, isso sim, quando diz que os índios, em contato com as facilidades da Civilização, logo as adotaram, e em pouco tempo não podiam mais viver sem elas, e logo queriam eles próprios civilizar-se. É claro: usar um machado de ferro é muito melhor do que se valer das mãos nuas para roçar o mato. Os índios não precisaram de curso para compreender as vantagens de morar debaixo de uma casa sólida e de lidar com ferramentas engenhosas. Não. Eles as adotaram com alegria.
É assim que é. É fácil assimilar facilidades. Há 20 anos, as pessoas viviam sem telefone celular, sem internet e sem TV a cabo. E viviam. E bem.
Há 30 anos, não havia futebol ao vivo na TV. Hoje alguém imagina viver sem? Hoje alguém concebe uma semana sem pelo menos uma transmissão de jogo da Dupla? Jogo ao vivo tornou-se indispensável. O luxo, basta se acostumar com ele para que vire artigo de primeira necessidade.
Um drama doméstico
Recebi um email desesperado de uma mãe. Seu filho, Rafael Barbosa, de 12 anos de idade, chegou em casa arrasado, com um exemplar da Zero Hora de domingo nas mãos.
– Então é isso, né, mãe? – dizia ele, voz embargada. – Então é isso: eu sou ruim. Por que tu nunca me disse que sou ruim?
É que ele leu minha coluna de domingo, em que escrevi que um time se monta de cima para baixo: os bons lá na frente, os ruins lá atrás. O Rafael é zagueiro do time dele, quer jogar de volante, mas o técnico não deixa, alegando:
– Não posso perder meu zagueirão.
A mãe do Rafael levou duas horas para convencê-lo de que ele não é ruim. Eu aqui, responsável pelo drama, peço perdão: foi só uma crônica, Rafael. Só uma história. Muitos bons já jogaram no fundo da zaga. Um Galvão, um Figueroa, um De León, um Gamarra. Hoje mesmo, um Mário Fernandes. E agora vai uma confissão, Rafael: eu era zagueiro. Sim, Rafael, eu era zagueirão.
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